Apagar e Construir

E se pudéssemos apagar momentos da nossa memória e construir novos factos? A cada minuto esquecíamos aquela palavra, música, ou pessoa e conhecíamos outras… Seria confuso, desgastante… No entanto, existem coisas que preferíamos esquecer ou não?

Até há pouco tempo, pensava que cada lembrança, boa ou má, serviria para traçarmos o nosso caminho, definir as linhas, os limites, para olharmos para trás e vermos como crescemos, como aprendemos, como resolvemos os problemas. Uma história só nossa, que poucos tinham o privilégio de descobrir e fazer parte. Contudo, fez-me pensar se, certos acontecimentos valiam mesmo a pena permanecer. As nossas dores ou mesmo as nossas perdas… Apagar, carregar no “delete” como fazemos no computador, era muito mais simples e a tristeza fugia. Não sei se seria correcto, só que às vezes, apetece tirar os sentimentos! Agarra-los com as mãos, atira-los para longe e não sentir mais! Somos tão tolos, eu sou uma tola, admito. Vivo e sinto cada sentimento, palavra, melodia, … com tanta intensidade e depois, bato bem de frente. Eu apagaria essa parte de mim. Ficaria diferente? Certamente que sim.
 

E depois o que acontecia? Boa pergunta…

Acredito que são momentos em que, estamos tão tensos, tão cansados, tão cheios interiormente, que só queremos fechar os olhos, respirar fundo, esquecer e acordar com a energia renovada.

A própria desilusão leva-nos a esquecer, aquilo que somos feitos. Há certas pessoas que, só em tê-las presente, colocam-nos de volta há nossa história. Eu fiz uma promessa a mim própria que começo a pensar em quebra-la. Prometi não voltar a confiar tanto em alguém, só que existem duas pessoas que me fazem perguntar se, não merecem uma oportunidade. Aqui acredito que, podemos esquecer este momento da promessa e construir um novo facto, uma excepção.

Há pouco tempo atrás, está prestes a fazer um ano, perdi a presença de alguém, fisicamente. Era e continuará a ser, uma mãe para mim porque estará eternamente no meu coração. Sempre me tratou pelo meu segundo nome e eu admirava-a. A força que tinha, o carinho que me transmitia, aquele sorriso inconfundível, a sua companhia, a maneira como me olhava orgulhosa de ter crescido tanto, as histórias contadas, as imensas perguntas que respondia só para me deixar contente, os conselhos, a maneira como me fazia sentir especial,… Não dá para descrever as saudades que sinto, em cada lembrança, em cada lágrima que se forma e vai escorrendo lentamente no meu rosto, nas inúmeras tentativas de tirar a tristeza,… É difícil quando sentimos a falta de alguém, principalmente quando fomos crescendo e aprendendo com essa pessoa. Gostava de a ter de volta, pensar que tudo não passa de um sonho mau e quando acordar, ver que continua aqui. Mas não é assim, infelizmente. Só me restam as lembranças e a esperança que, um dia, estarei de novo com ela.

Contei-vos isto para vos lembrar que, os momentos são importantes e se os apagássemos, esquecíamos as pessoas que são importantes. Tornam-nos mais fortes, mesmo que não sintamos isso. Por isso, voltarei a confiar em alguém, mais especificamente em duas pessoas maravilhosas que espero que, aceitem aturar-me por muito tempo ou simplesmente, que me deixem continuar a apreciar a companhia. Talvez estejam a perguntar se não é cedo para confiar, para construir novos factos? Não é! Eu arriscarei, confiarei nelas e deixarei que entrem na minha história até onde quiserem.

Haverão sempre coisas que queremos esquecer ou mesmo pessoas mas, estaremos a tirar páginas do que já escrevemos no nosso caminho. Bom ou mau, fomos nós que escolhemos ou fizemos. Apagar, nunca será solução. Sabem qual é? Terem as pessoas certas para esses momentos difíceis, para vos darem o que precisam.

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